Direto da Itália: artigo sobre o último clássico de Milão

O derby “della madonnina”.

Não podemos dizer que a situação da Itália seja boa nesse início de ano. Isso é claro! Economia, sociedade, política, catástrofe ecológica iminente, população desiludida, jovens sem perspectiva, etc... Tá feia a coisa!

                

Mas mesmo assim a vida vai seguindo por aqui; se ajoelhando em cada esquina, mas vai.  E para dar uma aliviada no tormento, só o futebol. 90 minutos com a bola rolando no tapete e umas três ou quatro horas no total até que se entre no estádio: um ritual que requer certo tempo e disposição e que pode mostrar-se gratificante no final.

                

A “Partidaça” da semana (15/01/2012) era o “Derby della Madonnina” (Alguém sabe por que ele se chama assim???) Internazionale di Milano e Milan A.C. Impossível comparar com os clássicos brasileiros. As rivalidades não se compactuam.

            

Já nos vários portões do estádio a gente vê o que há de melhor e de pior em Milão: Desfile de moda, mulheres lindas encasacadas (a temperatura era de 0° e o jogo começava às 21h), homens elegantes e perfumados, bebês dentro de macacões que parecem sacola térmica (por que não se deixa as crianças em casa?), bêbados, gente idosa – muito idosa e mais gente idosa ainda, os “ultras” - são os hooligans italianos: um monte de carecas entrando de mãos dadas e entoando cantos de guerra. Pouquíssimos ambulantes. Nada de camiseta falsificada pendurada em corda, bandeiras (somente na store oficial dos clubes), churrasquinho de gato, algodão doce, caipirinha do isopor... somente uns quentões para aquecer e reativar o corpo.  A falta de cambistas faz o preço do ingresso extrapolar: 200 euros! Melhor ouvir pela RAI ou ir a um bar e assistir pela SKY.

            

O jogo foi tão ruim que nem valeu a pena a viagem. Todo mundo assistia de pé dentro do bar pequenininho e eu não vi quase nada. Os poucos lances de ataques me eram bloqueados pelo muro de gente que se erguia... mas em suma, a defesa (brasileira) da Inter dominou e o gol de Milito (argentino) saiu somente graças a mais uma falha do lateral direito milanista. Ouvi um torcedor do Milan gritar que o Abate tem bola para jogar no Avaí.

Mas por que foi tão aquém das expectativas? Na verdade, a disputa foi quente durante a semana e não sobrou motivação para o domingo. Toda energia foi gasta na novelinha “Quem vai ficar com Tevez”. Milan e Inter disputaram o clássico antecipadamente. Brigaram a semana inteira para ver quem contratava o argentino. No final, nem um dos dois levou o Carlitos... Ou melhor: A Inter venceu também o clássico antecipado (aquele da novela), pois Tevez estava quase se vestindo de vermelho e preto.  Um dos chefões do Milan já estava em Manchester para acertar tudo, canetear, apertar as mãos, beijar o distintivo... quando super Pato bate no peito e diz “Quero ficar! Aqui é minha casa”. Grande Pato. Gesto bonito. Ninguém mais bate no peito e diz “aqui é minha casa, pô!” O cara recusou uma proposta milionária e teve coragem de dizer que ficaria e que ninguém iria se arrepender. Então só faltava ele fazer três no clássico. E era isso que eu queria ver! Queria ver o Pato fazer só três, sair correndo batendo no peito, metralhando no ar (gesto que ele não faz mais - não porque está marcando menos - mas sim porque foi repreendido por Galvão Bueno ao vivo em um jogo da seleção). Imagino que na mesa de reunião com os dirigentes milanistas, Pato deva ter feito a seguinte encenação: bateu no peito, empunhou sua air metralha e disse: “Estou em casa, não quero sair”. Poderia ter dito também: “Já estou saindo com a filha do patrão! Não é agora que vou deixar meu lar!” Talvez melhor não. A última réplica não lhe teria dado tanto respaldo.

                

Pato jogou mal, não fez gol e quase nem viu a bola. Mas está no Milan de modo bastante incomum. Chamou a responsabilidade pra si no meio dos dirigentes. - Será que a B.B estava nesta reunião? Não sei! Mas tanto o Milan quanto B.B saíram ganhando. Por que trocar um anjo de menino que jura amor pelo clube por um porra louca que por onde passa deixa a cicatriz da discórdia e do desentendimento? É difícil ver hoje em dia algo assim! O Milan ganhou também. A novela terminou empatada no final das contas.

                   

E ainda bem que terminou.

                

Sinto um repúdio pela maneira como a impressa trata as notícias aqui na Itália.A cada hora na programação das rádios, se pode ouvir as notícias. E me espanta ouvir os radialistas derretendo a manteiga para falar da situação econômica, do percentual de jovens sem emprego, do ano de sacrifício dos italianos, da crise, crise, crise... Balançam tudo isso nos nossos ouvidos até suspirar, retomar o fôlego e recomeçar dizendo; com outra impostação de voz... especulações, vende, compra, empresta entre Milan, Inter, PSG, Manchester, 30 milhões, 20 milhões, 40 milhões, Paris, Milan, Pato, Tevez, Mancini, Leonardo, PSG, Milan, vai, vem, fica... O futebol é realmente um mundo paralelo. Não é a toa que faz as pessoas sonharem e esquecerem a realidade.

                

No final das contas, Tevez pode - ao invés de desfilar nas passarelas de Milão- desfilar nas passarelas de Paris. Ao invés de Pato, o PSG está tentando o Carlitos.

                

Além de todas as notícias nebulosas que se ouve por aqui, muito se fala que B.B teve influência na ficada do Pato. B.B é Barbara Berlusconi e não Brigitte Bardot! – belezas comparáveis (diferente das rivalidades). Conselheira de administração do Milan, filha de Silvio Berlusconi, o poderoso chefão, namorada de Pato. Se ela bateu na mesa com sua mão, não importa. A atitude de Pato, batendo a mão no peito “quero ficar em casa”, foi bonita. Parabéns! 

Texto escrito por Danilo Calegari, 

brasileiro apaixonado por futebol que reside na Itália.