Os campeonatos europeus não costumam ter espaço para surpresas: times grandes e tradicionais fazem valer sua hegemonia e não dão chances para os pequenos. Porém, algo anormal aconteceu na França nesta temporada: o Montpellier foi campeão nacional e superou até o "novo rico" Paris Saint-Germain. A maior zebra da Europa contou com diversos pontos fortes para conquistar este título, inclusive um brasileiro no elenco, o pouco conhecido Hilton. Mas não é tão simples entender como surgiu a maior zebra desta temporada europeia.
Torcedores do Montpellier festejam o primeiro título da Liga (foto: esportes.terra.com.br) |
Antes do Campeonato Francês começar, a expecativa era por um campeonato desnivelado: o PSG tinha recebido o investimento de um grupo catariano e se tornado o "novo rico" da Europa. Tanto que fez a segunda maior contratação do mercado de inverno, pagando 43 milhões de euros (R$ 99 milhões) pelo argentino Javier Pastore. Até era esperado que o time tivesse dificuldades, pois haveria entrosamento de menos e pressão demais. Mas ninguém podia imaginar que um pequeno time do interior francês, 14º colocado na temporada passada, seria o responsável por se aproveitar disso.
O Montpellier voltou para a primeira divisão francesa só em 2009. E logo mostrou que tinha aptidão para ser zebra: alcançou o quinto lugar e se classificou para a Liga Europa de 2010/2011. A temporada seguinte teve mais baixos do que altos, com o time eliminado precocemente na competição europeia e lutando contra o rebaixamento no Francês. Mas os erros daquela época serviram de impulso para que o time voltasse a surpreender.
Não foram feitas grandes contratações. Um técnico novo não chegou. Sequer aconteceram mudanças significativas na estrutura - o time continuou a treinar em um campo que era da prefeitura. A aposta foi no entrosamento e em reforços pontuais. Uma dessas contratações, aliás, foi a do brasileiro Hilton. Pouco conhecido em seu País, ele trouxe a experiência de quem já conhecia o futebol francês - chegou ao Bastia em 2004, destacou-se no Lens e chegou a ser campeão francês pelo Olympique de Marselha, sem nunca sair do país.
O único brasileiro do time campeão, Hilton (foto: lequipe.fr) |
Eleito para a seleção dos melhores do Campeonato Francês, o próprio Hilton admitiu que a expectativa do time, antes do campeonato começar, era apenas se livrar do rebaixamento. Inclusive seu contrato só seria renovado se isso virasse realidade. Porém, o entrosamento foi fundamental para o Montpellier ir muito além das expectativas.: "eu cheguei agora, mas o grupo joga há três anos juntos, então tem muito entrosamento", afirmou ele ao Terra, para depois completar: "e também tem jogadores que tem nível internacional, três que jogam por suas seleções. Então também é por causa da qualidade dos jogadores mesmo", observou.
Toda essa qualidade não foi comprada. Além de Hilton, o time só investiu em outro reforço, o lateral esquerdo Henri Bedimo. Mas as investidas da equipe no mercado da bola pararam por aí. A maior aposta foi nas categorias de base: mais de 50% do atual elenco campeão neste ano foi formado no clube. O jovem marroquino Younes Belhanda, 22 anos, é um bom exemplo de como o Montpellier busca atrair e formar jovens de talento. O meia-atacante tem sido um dos principais jogadores do time, ao lado do centroavante Olivier Giroud. Outra revelação do clube, o zagueiro Mapou Yanga-Mbiwa se destacou tanto que foi pré-convocado para a seleção francesa da Eurocopa.
Olhar do adversário
Se o PSG teve chances de ser campeão francês até a última rodada, deve isso a Nenê. O meia-atacante brasileiro foi o principal jogador da equipe e até dividiu a artilharia da competição com Giroud, do Montpellier, ambos com 21 gols. Craque em campo, ele também mostrou habilidade para entender o segredo do Montpellier: "é o entrosamento. Eles têm um time que joga juntos há três anos. Teve jogadores que tiveram em um bom momento, como o Giroud e o Belhanda. Eles levaram bem o time e tem mais uns três jogadores que entraram no mesmo ritmo deles".
Mas as concordâncias entre Nenê e Hilton não pararam por aí. Eles também entendem que o fato do PSG estar sob grande pressão foi decisiva para que o time não fosse campeão francês: "eles (Montpellier) têm a vantagem de não ter pressão. A pressão estava toda em cima da gente, por causa das contratações", apontou Nenê, apoiado por Hilton, que ainda fez um pedido contundente: "a gente tem que continuar apenas jogando para provar que nem sempre o dinheiro faz grandes equipes".
Mas nem só de elogios vive o Montpellier. O time já foi criticado na França por causa do excesso de faltas e chamado de violento - fama comprovado pelo fato da equipe ter ficado na última e antepenúltima colocações nos dois rankings de Fair Play divulgados recentemente. Integrante dessa defesa que marca forte, Hilton foi elogiado por Nenê: "é um zagueiro experiente, que sabe sair jogando e ajudou muito o Montpellier", apontou ele, que admitiu ter tido dificuldades para superar a marcação do campeão francês.
Críticas superadas, o Montpellier montou nesta temporada uma receita razoavelmente simples para ser campeão francês: atenção com as categorias de base, entrosamento de longa data, ausência de pressão e defesa forte fizeram desse pequeno time uma zebra imensa. Resta saber se outros times pequenos aprenderão a fazer o mesmo ou se a Europa continuará sendo uma terra em que apenas gigantes são campeões.
Fonte: Portal Terra
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